domingo, 10 de outubro de 2010

Fic: Diário de uma Pirata II - Capítulo 5

18 de Agosto de 1624. – Acorde. Vamos, acorde. Estas são as primeiras palavras que eu ouço no dia, proferidas por um de meus companheiros do Corona.
Ele vira as costas e vai embora. Eu olho em volta, e estranho o fato de eu estar no quarto junto à “minha” tripulação. Estou tentando pôr minha cabeça no lugar. Será que, tudo aquilo que eu vivi, não passou de um pesadelo? Caminho até o espelho, e chego a minha conclusão. – Não foi um pesadelo. Falo comigo mesma, ao ver meus olhos inchados, minha camisa com botões faltando (não sei ao certo se aquele miserável me despiu com brutalidade a ponto de arrancar alguns botões, ou eu arranquei-os sem querer durante a pressa em me vestir para fugir daquilo tudo).
Mas isso não importa, nada mais me importa. Eu fui traída pelo homem que eu mais amo. Meu Deus, como isto pode acontecer? Como Michael pode ser seduzido por uma mulher a qual ele nem conhecia, mesmo após nós termos jurado confiança um ao outro, indiretamente, mas ainda sim, um juramento.

O quarto está vazio, e eu me encontro mais uma vez, sentada (desta vez na cama), chorando atordoada ao lembrar da cena que eu presenciei.
Uma mão toca o meu ombro, viro o meu rosto para ver de quem se trata, se bem que eu já imagino. E sim, eu estava certa, quem se encontra parado diante de mim, é ninguém menos que Lee, o homem que tentou abusar de mim esta madrugada.

- O que quer? Eu digo sádica.
- Não posso sequer lhe fazer uma visita? Ele diz, esboçando um sorriso com muita ironia.
- Veja bem, seu miserável. Você me fez sofrer muito esta noite, e ainda vem aqui, na maior tranqüilidade, dizer que veio fazer uma visita? Ah, por favor. Se quiser terminar o que foi começado há algumas horas atrás, vá em frente. Eu não ligo, não ligo pra nada mais.
Deito-me de bruços na cama, esperando pelo pior, se bem que, neste momento, eu não dou muita importância se esse homem quiser me torturar, ou seja lá quais forem as intenções dele.

- Você passou. Ele diz.
- Passei? Em que? – Sento-me na cama.
- Ora no que. No teste, é claro.
- Mas... – Sou interrompida.
- Você estava confusa e assustada no começo, o que era normal. Mas de qualquer forma, você deu um fim naquela experiência toda. Saiba que, em momento algum eu a deixei escapar, por vontade própria, você foi esperta me machucando e fugindo.
- Então tudo aquilo não se passou de uma... Farsa?
- Digamos que sim... Digamos que não. Eu sabia que tudo aquilo era um teste, eu sabia como agir. Mas se você não fizesse nada, eu iria sim, prosseguir até o fim. E eu não me arrependeria de deixá-la um tanto... Machucada, como conseqüência de sua reprovação.

Essa ultima frase dele, me assustou um pouco, me fazendo pensar em como eu fiz bem tendo fugido de tudo aquilo. Mas...
- E quanto a Michael?
- Oh, o senhor Jackson... Pois bem, creio que você tenha presenciado a cena, mas o seu sub-capitão, foi reprovado no teste... Mas veja por outro lado, a senhorita Elizabeth mandou os parabéns a você, ela disse que você é uma garota de muita sorte.

Eu aperto com força as cobertas. Se eu já tinha ódio guardado dentro de mim, Este quer sair. Como aquela vagabunda teve a capacidade de dizer algo assim?
Sem que eu me de por conta, lágrimas percorrem o meu rosto.

- Calma, calma... Lee me abraça. Eu começo a chorar forte.
Depois de alguns segundos no abraço dele, eu me acalmo um pouco, e ele me diz:

- Eu sei que você está triste e irritada. É perfeitamente compreensível. Mas saiba que concerteza, o seu namorado teve bons motivos para isso. Pode depender da mentalidade, de cada um de vocês, ou até mesmo das táticas usadas por mim e por Elizabeth. Como você percebeu, eu lhe tratei com violência e ignorância. Ela pode ter agido tanto assim, como de algum jeito que tenha “fisgado” o senhor Jackson. Eu vou lhe deixar agora para que você vá conversar com ele, tudo o que precisa ser dito. E em exatas duas horas, vocês serão convocados e a decisão será tomada.
Faço que sim com a cabeça e Lee se dirige a porta, antes de sair, ele diz:

- A propósito, Michael está sozinho em seus aposentos. – E sai.
Eu então enxugo minhas lágrimas e vou até os aposentos onde Michael estava ontem a noite.
Entro sem qualquer aviso prévio.
- Michael? – Eu o chamo.
- Mocinha! – Michael grita de um outro lado do quarto. Não havia o visto lá. – Que bom ver você! Ele diz, enquanto pula sorridente sobre mim, de tal modo que eu perco o equilíbrio e nós dois caímos no chão. Ele me beija.

É tão bom vê-lo feliz e receber seus beijos, mas... Estou inquieta, eu preciso falar nisso.
- Michael... Você não quer falar sobre nada?
- Claro – Ele responde – Eu andei pensando sobre a decisão e...
- Não! – Eu o interrompo – Michael, eu gostaria que falássemos sobre o que aconteceu esta madrugada.
A expressão dele muda completamente, ele fica assustado e sai de cima de mim, virando-se de costas.
- Temos mesmo que falar sobre isso? Ele diz.
- Sim Michael, nós temos. Eu quero que você saiba que comigo e com o Representante do Conselho não houve nada. Eu fugi. E quanto a você?

Michael chora. E eu também. Somos dois piratas chorando, sem que consigamos encarar um ao outro de frente.

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